Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
A executiva Carla Werner não foi vítima da violência, mas o medo é maior agora: relatos de conhecidos aumentam sensação de insegurançaNo PR, 70% têm mais medo do que há 5 anos
Pesquisa mostra que a maioria dos paranaenses considera a falta de segurança o maior problema do estado. Índice aumenta entre os curitibanos
24/07/2011 | 01:04 | KATIA BREMBATTILevantamento
Pesquisa marca início de campanha
A divulgação da pesquisa sobre a percepção de insegurança inaugura a cobertura jornalística da campanha “Paz sem voz é medo”, do Grupo Paranaense de Comunicação (GRPCom), que começa oficialmente neste fim de semana. Para saber o que mais está preocupando a população, o Instituto Paraná Pesquisa consultou 1.505 paranaenses – da capital, de municípios da região metropolitana de Curitiba (RMC) e do interior do estado. As entrevistas foram feitas em 70 municípios, entre os dias 8 e 15 de julho, com margem de erro de 2,5%.
Murilo Hidalgo, diretor do Instituto Paraná Pesquisas, parceiro do GRPCom na campanha, conta que o levantamento revelou que as pessoas estão conectadas com os problemas que as cercam. “Segurança pública é uma preocupação nas pequenas e nas grandes cidades”. Para ele, o que mais chamou a atenção foi a associação entre violência e drogas, citada por um número considerável de entrevistados. “Espero que daqui a um tempo, quando a gente voltar a consultar a população, a sensação de medo seja menor e o número de pessoas que sofreram violência também tenha caído”, pondera. (KB)
Temor distorce percepção
A comerciante Zanete Di Domenico sabe que o medo distorce a percepção. Depois de ter sido assaltada por um homem que usava boné, sentiu o corpo gelar quando um vendedor usando boné entrou no restaurante que administra com a família, no bairro Juvevê. Foram dois assaltos a mão armada, um há dez anos e outro há seis meses. A família também passou por várias tentativas de roubo do carro e por um roubo na rua. “Agora vivo em alerta”, diz Zanete, que buscou ajuda psicológica. “Os medos invadem até o sonho”, confessa.
Por trás das blindagens e dos muros altos
O advogado criminalista Carlos Alberto Martins da Silva sabe bem qual é a diferença de alternar a sensação de insegurança e de liberdade. Em Curitiba, mora em uma casa em condomínio fechado no Batel, com guarita e vigilância, e só circula em carro blindado. Nos Es-tados Unidos, onde passa alguns períodos por ano, fica em uma casa sem muros e não usa blindagem nos veículos. “Em Curitiba, tenho posturas defensivas que não tenho fora”, diz ele, que deixa o carro sempre em estacionamento e faz compras pelo telefone.
Paz Sem Voz É Medo
O que é a campanha
Vivemos um momento delicado. As estatísticas mostram uma sociedade diferente daquela com que sonhamos. Diariamente, somos impactados pela agressividade no trânsito, pelo avanço das drogas, homicídios e tantas outras formas de violência que passaram a fazer parte de uma rotina que não deveríamos aceitar.
Diante disso, o GRPCOM, por meio de seus veículos, Gazeta do Povo, Jornal de Londrina, Gazeta Maringá, RPC TV, ÓTV, Rádios 98FM e Mundo Livre FM, lança uma campanha e convida todos os paranaenses para uma reflexão sobre o tema. Leia matéria completa
Mesmo sem ter passado por nenhuma situação de violência nos últimos cinco anos, a executiva Carla Werner acredita que o Paraná está menos seguro neste período. E o motivo é simples: nada aconteceu com ela, mas pessoas que ela conhece passaram por situações traumáticas. São relatos que reforçam a sensação coletiva de insegurança.
Carla acredita que só não foi mais uma vítima recente da violência porque tomou algumas atitudes que a deixaram um pouco mais protegida. Mesmo tendo investido dinheiro e sonhos na construção de uma casa no bairro Santa Quitéria, acabou se mudando para um apartamento no Água Verde. A motivação foi uma tentativa de assalto, há cinco anos. Antes disso, já tinha sido abordada cinco vezes enquanto dirigia. Passou a evitar sair à noite e só circula com os vidros do carro fechados. “Eu fiquei muito mais alerta”, conta. “A verdade é que a pessoa fica presa, tem muito menos liberdade. Não pode mais ir ao lugar que quiser, no horário que quiser”, diz.
A executiva busca trabalhar mais em casa e não deixa a filha, de 15 anos, ir sozinha a lugar algum. Quando alguém se aproxima do carro, ela já fica apavorada. “Às vezes é um trabalhador, mas eu acho que todo mundo é ladrão”, conta. Depois dos traumas, vê mais maldade do que bondade nas pessoas. “A vida era muito mais bonita do que é hoje”, lamenta.
Mais medos
No Paraná, a segurança pública é apontada como o principal problema por mais da metade (56%) dos entrevistados. Especificamente para os curitibanos, a preocupação é ainda maior – na faixa dos 62%. Já a percepção nacional, a partir de uma pesquisa recente feita pelo Ibope, indica que a segurança é a terceira preocupação dos brasileiros – atrás de saúde e educação. Anteriormente considerado tranquilo, o Paraná agora está, para metade das pessoas ouvidas na pesquisa, na média dos demais estados brasileiros no quesito violência. E para um a cada quatro consultados, o Paraná é muito violento.
Para a maior parte dos entrevistados, as drogas – tanto o uso (47%) quanto o tráfico (40%) – estão associadas aos casos de violência. Uma droga lícita, a bebida alcoólica (21%), aparece na terceira posição entre os motivadores. No rastro desses três fatores é que são citadas causas como falta de policiamento, questões sociais, corrupção e impunidade.
Alta probabilidade
Assaltos preocupam mais que homicídios
O principal medo dos paranaenses é ser vítima de assalto. Para quatro em cada dez pessoas ouvidas na consulta, esse é o crime mais temido. E o psiquiatra Sivan Mauer argumenta que esse receio é racional. “É um medo real, baseado na probabilidade”, explica. Como os casos são frequentes, a pessoa realmente acredita que pode ser assaltada, acrescenta o vice-presidente da Sociedade Paranaense de Psiquiatria.
A pesquisa também mostra que uma em cada cinco pessoas entrevistadas esteve cara a cara com uma situação de roubo ou furto nos últimos 12 meses. Considerando que todos os casos de roubo tenham sido comunicados à polícia e que a mesma pessoa não tenha sido vítima mais de uma vez no ano, as estatísticas da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) indicariam, contudo, baixo risco de envolvimento em uma situação de assalto. Uma em cada 500 pessoas no Paraná comunicou ter sido vítima de roubo no ano passado.
O medo de homicídio – crime mais grave que o assalto – aparece em sexto lugar na pesquisa. Bala perdida, sequestro e latrocínio também foram medos frequentemente citados. A percepção de que a possibilidade de ser assassinado é menor pode estar associada à impressão de que existem grupos de risco. Assim, uma mulher de meia idade que more em um bairro mais tranquilo estaria menos suscetível do que um rapaz morador da periferia e envolvido com drogas. Também pelos indicadores da Sesp, uma em cada 3,4 mil pessoas foi vítima de homicídio em 2010.
Metade dos entrevistados citou a saída de banco como uma situação de alto risco de violência. Estar na rua, parado em um semáforo ou circulando pela periferia da cidade também foram situações bastante apontadas como potencialmente arriscadas. Quatro em cada dez pessoas disseram que deixaram de fazer algo porque estão com medo. Mas a maioria da população (seis de cada dez pessoas) afirma que não restringiu nenhuma atividade por temor da violência. Sobre qual situação deixa as pessoas mais amedrontadas, as quatro principais respostas – em porcentuais bem semelhantes – foram: andar em ruas escuras, sacar dinheiro em caixa eletrônico, ser vítima de roubo ou furto em casa e sofrer assalto a mão armada.
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