Joel Franklin foi assassinado quando trabalhava no Parque Barreirinha, na noite de segunda-feira. Em um ano, cinco agentes foram mortos na cidade
A morte do guarda municipal Joel Franklin, 51 anos, encontrado baleado em frente à guarita onde trabalhava, no Parque Barreirinha, em Curitiba, no início da noite de segunda-feira, revoltou colegas e familiares e voltou a expor a fragilidade da corporação na cidade. Ele teria sido morto durante um assalto, já que teve a arma e o colete à prova de balas roubados. O caso será investigado pela Delegacia de Furtos e Roubos (DFR). Em um ano, foi o quinto assassinato de um guarda na capital.
Segundo investigadores da DFR, o agente foi abordado por dois homens que estavam em uma moto, por volta das 18 horas de segunda-feira. Os suspeitos teriam perguntado se havia algum guarda municipal no Parque Barrei rinha e Franklin teria respondido que ele fazia o trabalho. Quando uma viatura da Guarda chegou ao local, por volta das 19h30, o corpo de Franklin estava no chão. Ele foi baleado na cabeça e havia sinais de briga.
Cerca de 150 guardas fizeram um protesto ontem pela manhã em frente à prefeitura. Segundo o Sindicato dos Servidores Mu nicipais de Curitiba (Sismuc), Franklin trabalhava sozinho no local e é comum o patrulhamento ser feito por apenas um servidor. Para o supervisor da Guarda Municipal, Laurizando Corte Filho, o caso mostra que é necessário implantar o trabalho em duplas. “O caso de Franklin de monstra falta de competência da administração atual em deixar um guarda trabalhar sozinho, sendo aquele lugar um local ermo, com mato”, afirma.
Más condições de trabalho
O guarda municipal Luiz Carlos Lima, 53 anos, conta que o amigo e colega morto não dispunha de rádio de transmissão, o celular não recebia sinal para ser usado e o telefone fixo só podia ser utilizado em ligações para outro número fixo. “Não há estrutura de trabalho”, critica Lima. Ele lembra ainda que os guardas costumam ficar cerca de uma hora desarmados, enquanto as armas são entregues por outros colegas.
Para Juliano Franklin, filho da vítima, o pai estava em um lugar muito vulnerável. Segundo ele, Franklin costumava comentar que não aprovava trabalhar sozinho, em um lugar tão extenso. O Parque Barreirinha tem 275 mil metros quadrados e ele estava há pouco mais de três meses no local.
Atualmente são 1.740 guardas municipais em Curitiba, para cuidar de 100 locais públicos administrados pela prefeitura, como postos de saúde, escolas e parques. A assessoria da prefeitura negou que eles trabalhem sozinho. Quando isso acontece, segundo a prefeitura, os agentes “ficam fechados em guaritas”, sem precisar fazer a segurança externa. A orientação é para que, ao observarem algo errado, peçam apoio por telefone ou via rádio.
Locais de risco
Representantes do Sismuc farão um levantamento dos locais de maior risco para o guardas mu nicipais na cidade. Amanhã eles deverão se reunir com representantes da prefeitura para debater medidas que au mentem a segurança dos profissionais. Uma das reivindicações da categoria é a saída do atual secretário municipal da Defesa Social, Itamar dos Santos.
“Há algum tempo pedimos mais segurança para a Guarda Muni-cipal e não fomos atendidos”, diz a presidente do Sismuc, Marcela Alves Bomfim. Segundo ela, outros pedidos serão para os guardas trabalharem em duplas e para melhorar o treinamento dos agentes. O supervisor da Guarda Mu nicipal de Curitiba, Laurizindo Corte Filho, considera deficiente a capacitação dos guardas. Atualmente são 600 horas de cursos. “O ideal seriam 800 horas. A Polícia Militar oferece treinamento de um ano”, diz. Os cursos são dados em convênio com a escola da Polícia Civil com a Academia de Polícia Militar, no Guatupê.
O corpo de Franklin (que deixou cinco filhos e uma neta) foi enterrado ontem à tarde no Cemitério Água Verde. No local mais alto do cemitério, centenas de guardas fardados, amigos e familiares se aglomeraram em torno do túmulo. Houve discurso, continências e aplausos em virtude dos 16 anos de atuação como profissional da Guarda Municipal.