Foram feitas 26 milhões de apreensões de produtos falsificados nos últimos oito meses, número recorde
Mariana Barros | 24/08/2011
Feira da Madrugada: protesto no dia 6 contra a interdição do camelódromo
Nelson Antoine/Folhapress
+ As ações na muambolândia
Cansada de enxugar gelo sem conseguir resolver o problema, a prefeitura pôs em prática um plano inédito de combate. Criou um ataque coordenado que reúne agentes municipais, Receita Federal, Polícia Federal, Ministério Público, Polícia Civil e representantes de algumas das empresas mais lesadas pelas falsificações. Essa nova estratégia de repressão teve início no fim do ano passado e é centralizada pelo secretário municipal de Segurança Urbana, Edsom Ortega.
Mário Angelo/Folhapress
Imediações da Rua 25 de Março: marreteiros fecham vias para reclamar da apreensão de mercadorias irregulares em 7.200 lojas
Se a disposição for realmente levada adiante, será uma mudança histórica de comportamento. Esse tipo de comércio enraizou-se em São Paulo, feito erva daninha, depois de décadas de omissão dos responsáveis por coibi-lo. Muitos políticos, caprichando na demagogia, chegaram a tratar os camelôs como vítimas do sistema, argumentando que eles eram desempregados e não podiam ser impedidos de trabalhar. Isso ajudou a coisa a fugir ao controle, causando uma cadeia enorme de prejuízos.
Mário Angelo/Folhapress
Confronto: vendedor enfrenta a Guarda Civil durante operação de fiscalização de produtos no centro
O mais recente campo de batalha da guerra pela legalidade está na Zona Leste, no bairro do Brás, onde fica a Feira da Madrugada, um dos maiores camelódromos do país e o principal entreposto da pirataria na cidade. Ela tem esse nome devido ao pico de movimento, entre 2h e 5h, quando os muambeiros se abastecem mais tranquilamente e seguem para revender as mercadorias.
Num emaranhado de tendas coloridas de proporção babilônica, havia, segundo o mais recente levantamento da prefeitura, precisamente 4.111 barracas operando, muitas oferecendo imitações grosseiras de lançamentos de grife, como cuecas “Hugo Boss”, por 4,50 reais, ou bolsas “Victor Hugo”, por 21 reais. Tudo, claro, uma imitação grosseira. Muitos marreteiros se locomovem a bordo de carros de luxo. Dependendo da localização, um ponto de venda por ali chega a custar 500.000 reais, quase o mesmo valor de uma loja de 250 metros quadrados num local mais nobre, como as redondezas da Avenida Brigadeiro Luís Antônio, no Paraíso.
Tão assombrosa quanto a dimensão da feira é a sua absoluta ilegalidade. Não há alvará de funcionamento, e os labirintos onde estão os pontos de venda repletos de badulaques são uma séria ameaça à segurança de milhares de pessoas que passam por ali diariamente. “Fora a barulheira que promovem, alguns comerciantes chegam a fazer ligações de luz clandestinas”, afirma Edson Piquera Mejias, presidente da Associação de Moradores, Comerciantes e Amigos do Brás, Pari e Canindé.
Mario Rodrigues
Depósito da Receita Federal: bebidas, cigarros, pneus e tecidos
Em março, um dos líderes da região, o empresário Geraldo de Souza Amorim, enviou uma carta ao prefeito Gilberto Kassab acusando políticos do PR, entre eles o deputado Valdemar Costa Neto e o ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento (que deixou o cargo no início de julho após denúncias de corrupção), de comandar um esquema de propinas para permitir que os camelôs continuassem a trabalhar ali. Os acusados negam. O Ministério Público e a Corregedoria-Geral do município apuram o caso.
Mario Rodrigues
Receita Federal: até carros de luxo contrabandeados
Reunir os camelôs num mesmo espaço foi uma alternativa de combate à proliferação de barraquinhas nas calçadas. Há dois anos cerca de 20.000 estavam espalhadas pelos pontos mais movimentados da cidade. Boa parte dos ambulantes que não conseguiram migrar para a feira do Brás e tentaram continuar trabalhando sem licença foi varrida das ruas. Nos locais que ficaram livres deles, a incidência de furtos chegou a cair 60%.
Raul Zito
Camisas falsas nos estádios: camelôs ainda agem livremente nas ruas
A apreensão de mercadorias nos últimos meses praticamente lotou as prateleiras do principal depósito da Receita Federal em São Paulo. As estruturas, com cerca de 10 metros de altura, reúnem todo tipo de produto apreendido na cidade, inclusive das galerias do centro — perfumes, caixas de bebidas e de cigarros, rolos de tecidos, pneus, eletrônicos e peças da linha de montagem de eletrônicos, entre outras coisas. No espaço de 21.000 metros quadrados há também caminhões, ônibus, carros importados e até um helicóptero. Os itens ficam retidos até a investigação terminar.
Raul Zito
Edson Vismona, do Fórum contra a Pirataria: 26 empresas reunidas para coibir imitações
Os artigos que escapam à fiscalização são revendidos depois em pontos como as galerias da 25 de Março — não por acaso, a região foi escolhida como um dos primeiros alvos das ações das autoridades. Endereços movimentadíssimos como a Galeria Pagé, o Shopping Mundo Oriental e o Shopping 25 de Março tiveram de fechar as portas até que todos os boxes fossem vistoriados e os objetos sem nota, recolhidos. Quando reabriram, dezenas de prateleiras estavam vazias.
O intuito da prefeitura é transformar esses locais em outlets, onde grandes marcas possam vender com desconto produtos fora de linha ou apresentando pequenos defeitos. Até agora, porém, nenhum acordo foi oficializado. Na Galeria Pagé, alvo de ação em abril, dezenas de boxes estão para alugar.
Falsificações de óculos “RayBan” (25 reais) e de bolsas de viagem “Louis Vuitton” (85 reais) continuam sendo encontradas com facilidade, assim como cremes originais da Victoria’s Secret (25 reais) sem nota fiscal. Funcionam como exemplos de que a repressão constante e a tolerância zero a esse tipo de crime são essenciais para que a batalha pela legalidade seja realmente vencida em São Paulo e os piratas afundem de vez.
AS FORÇAS LEGAIS
Os papéis dos envolvidos na batalha
Polícia Federal: 93 estrangeiros deportados por venderem mercadorias ilegais
Receita Federal: 26 milhões de itens apreendidos, no valor de 1,3 bilhão de reais
Prefeitura: 7.200 pontos de venda vistoriados em 22 operações realizadas
Setor privado: Empresas como Adidas e HP ajudam nas investigações e na infraestrutura das operações
fonte: http://vejasp.abril.com.br/revista/edicao-2231/pirataria-sao-paulo-acoes
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Inspetor Frederico