Segundo
Guerra, a operação foi comandada pelo coronel de Exército Freddie
Perdigão (Serviço Nacional de Informações - SNI) e pelo comandante
Antônio Vieira (Centro de Informações da Marinha - Cenimar). “Os
militares também andavam muito aborrecidos com a Igreja Católica, que
estava se alinhando à esquerda, pela abertura política”, afirma Guerra.
Perdigão e Vieira também estavam à frente do atentado ao Riocentro.
Guerra
levava também uma pasta com um revólver calibre 45. A arma era a
preferida dos cubanos. A intenção também era ligar o governo de Fidel
Castro ao assassinato. “Eu me lembro do boato de que Fidel Castro estava
aborrecido por Brizola ter ficado com o dinheiro enviado por Cuba para
financiar a guerrilha do Caparaó (o primeiro movimento de luta armada
contra a ditadura militar). Os militares estimulavam esses boatos nos
quartéis e entre nós”, revela Guerra. “Com o retorno de Brizola, os
comentários sobre o dinheiro de Fidel apareciam aqui e ali”.
“O
objetivo (do atentado) era implicar a Igreja Católica – resolveríamos
dois problemas de uma vez só – e envolver os cubanos, insatisfeitos com a
suspeita de desvio de verba para a guerrilha do Caparaó; daí a arma
calibre 45”, aponta. “O objetivo, como sempre, era tumultuar o processo
de redemocratização do Brasil”, reafirma o ex-delegado em depoimento ao
jornalistas Rogério Medeiros e Marcelo Netto no livro que acaba de ser
publicado pela editora Topbooks.
Plano
Ex-delegado do DOPS fala sobre atentado contra Brizola
A
tentativa de assassinato ocorreu quando Brizola morava em Copacabana,
no Rio de Janeiro. A data é incerta. Guerra conta que foi entre “a
chegada dele do exílio, em 1979 e antes da demissão do chefe da Casa
Civil, Golbery do Couto e Silva” em 1981. O ex-delegado afirma no livro
que se hospedou no Hotel Apa, na rua República do Peru. O hotel existe
até hoje. Ele se registrou com identidade e CPF falsos, concedidos pela
Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro na época. “Quando
precisava incorporar um personagem para realizar uma missão, eles
forneciam tudo: CPF, identidade, tudo”, relata.
O
ex-delegado revela no livro “Memórias de uma Guerra Suja” foi até a
porta do prédio onde Brizola montado na garupa de uma moto conduzida
pelo tenente Molina, um militar do Cenimar. Normalmente o líder de
esquerda saía de casa “um pouco antes do meio-dia”, pelas informações do
SNI repassadas ao ex-delegado do DOPS. Naquele dia, Brizola não desceu e
o atentado foi abortado. “Havia o interesse da comunidade de
informações em eliminar Brizola, só que depois houve um retrocesso, uma
mudança”, afirma Guerra.
Brizola
sofreu uma tentativa de assassinato no Hotel Everest, no Rio de
Janeiro, em 18 de janeiro de 1980, quatro meses depois de chegar do
exílio. Uma bomba foi deixada na porta do apartamento do líder de
esquerda mas desativada em seguida.
*Colaborou Adriano Ceolin, iG Brasília
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