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Mais comuns desde o início do ano, desenhos autorizados nas fachadas de comércios e residências ajudam a desestimular os pichadores
Publicado em 02/05/2013 | RAFAEL WALTRICK
Comerciantes de Curitiba têm apelado para uma estratégia até então pouco convencional para coibir as pichações nas fachadas dos estabelecimentos. Trata-se, como diz o jargão popular, de juntar a fome com a vontade de comer: os muros estão sendo “entregues” para grafiteiros que, devidamente autorizados, dão vazão à imaginação e habilidade nos sprays sem correr o risco de transgredirem a lei.
A troca de favores encontra respaldo em uma situação que pode não ser regra, mas vale para boa parte dos casos – em muro onde há grafite, não se picha. Seja como forma de prevenção ou até estímulo aos grafiteiros, as pinturas autorizadas estão mais comuns este ano. Segundo registros da Guarda Municipal, do total de atendimentos feitos a denúncias de pichação desde janeiro, em 17% dos casos constatou-se que os desenhos estavam sendo feitos com a anuência dos proprietários das fachadas. No total, 128 grafites foram identificados pela Guarda nos últimos quatro meses.
Autorização
Para que a pintura ocorra sem problemas é necessário que o grafiteiro apresente uma autorização por escrito do proprietário da fachada ou que o comerciante ou morador se apresente no momento da abordagem da Guarda Municipal. Há apenas uma condição: mesmo com autorização, o grafite não pode fazer apologia ao crime ou ao consumo de drogas ilícitas. “Por mais que o proprietário da fachada autorize, não se pode pintar uma folha de maconha, por exemplo”, diz o diretor da Guarda, Claudio Frederico de Carvalho.
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Os números diferem bastante dos registrados ano passado no mesmo período – foram 29 desenhos autorizados que corresponderam a 10% do total de atendimentos feitos pelos agentes municipais. “A população está percebendo que onde existe grafitagem não vai ocorrer pichação. Além disso, é uma maneira de embelezar o espaço e aproveitar o trabalho deste artista (o grafiteiro)”, diz o diretor da Guarda Municipal, Claudio Frederico de Carvalho.
Iniciativa
Quem já teve o muro devidamente grafitado garante que a estratégia funciona. Há um ano e meio, o empresário Ricardo Sanson, proprietário de um estacionamento no Centro de Curitiba, foi contatado por cinco grafiteiros que queriam dar vida nova ao muro repleto de pichações na esquina das ruas André de Barros e Lourenço Pinto. Sanson aceitou e chegou a dar algumas sugestões de temas para a fachada que virou painel. “Foi uma experiência muito positiva. Desde então, não picharam mais nada em cima. A fachada do estacionamento está tão bonita que virou até ponto turístico.”
Outro muro grafitado que chama atenção, tanto pela variedade dos desenhos quanto pela imensidão, está no encontro da Avenida Marechal Floriano Peixoto com a Linha Verde. Os desenhos foram feitos durante um encontro de grafiteiros em abril de 2011. A Auto Viação São José dos Pinhais, que possui uma garagem de ônibus no local, ofereceu almoço e usou os próprios veículos para buscar os artistas em casa e em pousadas. A parceria deu certo e os desenhos resistem bravamente ao longo de todo um quarteirão.
“Foi uma maneira de ‘espantar’ os pichadores, já que, desde então, não existe mais nenhuma pichação no muro. Ficou bonito mesmo”, resume o gerente administrativo da empresa, Telmo Reolon.
Aceitação
Grafitagem avança, mas ainda encontra uma resistência social
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A grafitagem de estabelecimentos comerciais em Curitiba pode ocorrer não só como uma “troca de favores”, mas também por afinidade entre empresários e grafiteiros. Palco da tradicional festa I Love CWBeats, o Atacama Bar, no Bairro São Francisco, teve a fachada pintada em dezembro pelos artistas Michael Devis, Fernando Worm e Leandro Cinico, durante as comemorações dos quatro anos do evento. Agora, três rostos adornam a entrada do bar, resgatando elementos visuais que remetem ao hip hop, rock’n roll e Carnaval.
A aproximação entre os comerciantes e grafiteiros, porém, não tem ocorrido sem que persistam certas rusgas e arestas a serem aparadas. Até porque ainda há quem não diferencie pichação de grafite e quem insista em usar o spray mesmo sem autorização.
“O que dá para perceber é que há uma campanha em andamento mais voltada para coibir os pichadores e não para tornar os cidadãos mais conscientes. Temos dificuldade em relação à aceitação do grafite desde o início. As pessoas vão abrindo a cabeça, mas é um processo demorado”, afirma o grafiteiro Neto Vettorello, um dos organizadores do Streets of Style, encontro internacional de grafite ocorreu em Curitiba no início de abril.
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