26 abril 2009

O caminho das Índias e as Guardas Municipais


O caminho das Índias e as Guardas Municipais

 

 

É sabido por todos que acompanham as políticas de segurança pública, a enorme pressão exercida pelas Polícias Militares sobre as Guardas Municipais, principalmente para dificultar, retardar ou impedir que as mesmas cresçam e se transformem, em futuro próximo, nas tão sonhadas e indispensáveis polícias municipais.

Os prefeitos eleitos, ao designar oficiais e praças, das Policias Militares, para os comandos de suas forças municipais de segurança pública, agem como aquele fazendeiro que, na falta de um cão de guarda, acredita que a melhor solução será colocar uma raposa fazendo a segurança do galinheiro. Mesmos que os comandantes, oriundos das PMs, tenham as melhores das intenções; mesmo quando eles assumem um compromisso com a instituição, sob seu comando, fica difícil se contrapor a filosofia de exclusividade e de hegemonia, das PMs, no policiamento preventivo nas cidades brasileiras.

Nos últimos anos, as Guardas Municipais vêm se notabilizando pelo excelente trabalho realizado junto às comunidades dos municípios onde prestam seus serviços. Sua filosofia de atuação é baseada em três pilares: amigo, aliado e protetor. Por desempenharem atividades de apoio à segurança pública, ações de cunho social e controle do tráfego em vias municipais (nos municípios dos quais fazem parte), são raros os casos de corrupção, violência arbitrária ou abusos de poder, o que torna a instituição uma referência para a segurança pública, particularmente nas pequenas e médias cidades.

Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda de Adolf Hitler, nas décadas de 20, 30 e 40, ficou conhecido por escrever artigos que denegriam a imagem dos possíveis inimigos do Rich. Assim, quando povos, políticos, empresários ou militares tinham que ser afastados – mesmo aqueles de grande prestígio, as medidas eram socialmente aceitas, pelo povo alemão, pois a “vítima” já havia sido publicamente execrada pelos veículos de comunicação de massa. Naquela época a propaganda era realizada, basicamente, com o auxílio do cinema, de jornais, do rádio e de panfletos, que eram distribuídos à população. No século XXI, além de termos o cinema dentro de nossas casas, contamos ainda com a televisão e a rede mundial de computadores – internet.

Num país, como o Brasil, onde a maioria da população dispõe de pouquíssimas opções de entretenimento, os canais de televisão aberta se apresentam como única alternativa para aquele período compreendido entre a chegada do trabalho e o horário de repouso. As telenovelas se apresentam como uma imposição das diversas emissoras, em variados horários e temas abordados.

Nesta ótica, a mídia brasileira, através da Rede Globo de Televisão, vem prestando um enorme desserviço àqueles que querem macular a imagem da instituição Guarda Municipal, em particular a da cidade do Rio de Janeiro, com seu uniforme bege e seu chapéu branco.

Não posso afirmar que a autora Glória Peres, ao escrever a telenovela “Caminho das Ìndias” tivesse a clara intenção de denegrir a imagem dos guardas municipais, em particular os integrantes do Grupamento Especial de Trânsito – GET. Ao criar o personagem “guarda Abel”, a autora fez justiça ao caráter, à honestidade e ao senso de dever, inerente a todo guarda municipal. Em contra partida atacou a imagem da instituição família, imputando ao guarda Abel a pecha de “marido traído” e a sua esposa Norminha a fama de “mulher safada”. 

Somente os guardas de trânsito da cidade do Rio de Janeiro podem explicar seus sentimentos ao ouvirem, todos os dias, de passageiros de coletivos que passam pelos cruzamentos onde ordenam o trânsito, expressões como “abre o olho Abel” ou “vai prá casa Abel”, ou ainda daquele motorista de taxi, que externou sua insatisfação com o guarda, e me levou a escrever este artigo, dizendo: “aqui ele manda, mas em casa, a mulher faz e desfaz”.

Depois de ver e ouvir tudo isso, envolvendo as Guardas Municipais, chega-se a uma conclusão: é a velha técnica de propaganda nazista reaplicada no século XXI.

 

Jorge Heleno de Araújo é militar da reserva do Corpo de Fuzileiros Navais, pedagogo e foi gerente de Planejamento de Ensino da GM-Rio na gestão do Comte Paulo Cesar Amendola de Souza.

 

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