Compartilho
abaixo, considerável trabalho acadêmico realizado no campo da comunicação,
intitulado: "Expressão da Rua: Documentário Sobre a Intervenção Visual
Urbana em Curitiba”.
Elaborado
pelos alunos Liege Scremin Mizga e Matheus Gasparin Regis, sob a supervisão e
orientação da Professora Elaine Javorski da UniBrasil, Curitiba, PR.
Apresentando
na Expocom 2014 - Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação, promovido
pela Intercom (Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação)
Abaixo,
na íntegra, compartilho o referenciado artigo, também disponível no site Portal
Intercom acesso em : <https://www.portalintercom.org.br/anais/sul2014/expocom/EX40-0455-1.pdf>
#repostando:
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Expressão da Rua: Documentário
Sobre a Intervenção Visual Urbana em Curitiba1
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Liege Scremin Mizga2
Matheus Gasparin Regis3
Elaine Javorski4
UniBrasil, Curitiba, PR
RESUMO
O vídeodocumentário Expressão da
Rua5 aborda o contexto da intervenção visual urbana em Curitiba,
dando ênfase aos fatos de maior expressão sobre o tema na cidade. Segundo as
pesquisas realizadas (análise de conteúdo, documental e grupo focal), poucas
pessoas conseguem diferenciar as inúmeras formas de intervir no ambiente
urbano. Por isso, foram estudadas manifestações que estão inseridas nesse
contexto, como o graffiti, a pichação, o stencil, o sticker e
o lambe-lambe, ouvindo interventores, cidadãos e também órgãos públicos. Por
fim, vale ressaltar que para criação deste trabalho foram levados em conta os
princípios éticos que regem o jornalismo, assim como suas técnicas e a
importância que ele representa para a criação da memória coletiva da sociedade.
As conclusões apontaram para uma defasagem de registros desse cunho na mídia
paranaense especializada.
PALAVRAS-CHAVE: intervenção
visual urbana; videodocumentário; jornalismo;
1. Introdução
A transformação é
a constante que move os dias atuais. Seja na arquitetura, na cultura ou no modo
de pensar de cada pessoa, a mudança faz parte do contexto. Parece clichê, mas
não há como entender o presente sem saber o que, no passado, poderia ter
influenciado tais manifestações. A abordagem deste documentário trata de um
aspecto sobre o jornalismo como fonte de memória coletiva e o objeto de estudo
deu-se por meio das intervenções urbanas na cidade de Curitiba, no Paraná.
Segundo as
autoras Ana Paula Goular Ribeiro e Lucia Maria Alves Ferreira (2007, p.7), os meios
de comunicação desempenham, nas sociedades contemporâneas, um papel Intercom –
Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXI Prêmio
Expocom 2014 – Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação crucial na produção de uma ideia de história e de
memória. Ao mediar a relação dos sujeitos com as transformações do seu
cotidiano, produzem no âmbito do senso comum, sentidos para os processos
históricos nos quais esses sujeitos estão inseridos.
Após dois centenários da criação da mídia, a produção
deste trabalho veio ressaltar a importância do aspecto jornalístico, não apenas
para a produção da memória visual e arquitetônica de Curitiba, mas também para
complementar o que há mais de 200 anos tem relevância histórica e social –o
valor notícia, assim como entender o que leva os interventores às ruas e o que
a população acha sobre tais manifestações.
O vídeo documentário Expressão da Rua colocou os
personagens como fonte principal de narração, fazendo com que, assim, a opinião
dos mesmos fosse ouvida e de modo a evitar algum tipo de distorção de
informações, uma vez que muitos produtos como esse, antecedem um conceito
opinativo. O que se procurou mostrar é que a intervenção urbana não necessita
de classificação e que ela é inevitavelmente uma forma de manifestação.
Celso Gitahy (1999, p.11) afirma que o vestígio mais
fascinante deixado pelo homem através do tempo foi a produção artística, entre
elas os desenhos feitos nas cavernas. “Não sabemos exatamente o que levou o
homem das cavernas a fazer essas pinturas, mas o importante é que ele já
possuía uma linguagem simbólica própria”. Desta forma, além de conceitos
técnicos sobre intervenção urbana, este projeto tratou também das questões de
como elaborar um documentário, enfatizando principalmente a parte de
entrevistas e edição, assim como a importância de utilizar os princípios e
bases éticas do jornalismo para compor o produto final.
A análise aprofundada sobre o assunto teve como fonte
de pesquisa, bibliografias de historiadores, jornalistas, artistas entre
outros. Desta forma para mostrar que poucas pessoas compreendiam o tema
“intervenção urbana” e a diferença entre seus diversos tipos, foram utilizados
métodos científicos como grupo focal, pesquisa exploratória e análise de
conteúdo.
O Expressão da Rua é um média-metragem com duração de
cerca de 30 minutos, que também tem uma edição prévia de 3 minutos, para
veiculação e divulgação nas ruas e em mídias com acesso a internet. O propósito
foi realizar um vídeo com imagens dinâmicas e espontâneas, sem perder ações
fundamentais, não enfatizando tanto a preocupação técnica, em benefício de
garantir o registro de momentos oportunos. O enfoque do documentário Intercom –
Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXI Prêmio
Expocom 2014 – Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação acabou
priorizando o graffiti e a pichação, pela falta de interventores em
Curitiba, de sticker, lambe-lambe e stencil, mas sem deixá-los de
lado.
2.
Objetivo
2.1.Objetivo
Geral
Mostrar
as diferentes formas de intervenção visual urbana em Curitiba, por meio de um
documentário jornalístico, dando voz aos interventores e ao público, para que
haja uma reflexão sobre esse tipo de expressão.
2.2. Objetivos Específicos
2.2.1.Investigar
o espaço urbano como ambiente que propicia o desenvolvimento da intervenção
visual;
2.2.2.Levantar
discussão sobre o tema, de forma a mostrar as diferentes opiniões, tanto do
público quanto de interventores e autoridades.
2.2.3. Preservar
a memória cultural da cidade por meio do vídeodocumentário, uma vez que
trata-se de um tema bastante perene e que está em constante mudança;
3.
Justificativa
O documentário em questão, produto de conclusão de curso,
mostrou uma abordagem jornalística sobre intervenção visual em Curitiba, pois
foi identificado por meio de pesquisas que os trabalhos monográficos já
realizados referentes ao assunto consideram a intervenção como uma forma de
arte que assume diferentes significados para o público, de modo a já o
classificar. Sendo assim, foi necessária trazer uma discussão que antecede esse
conceito, ou seja, que a interpretação das intervenções nem sempre significam
uma forma de arte ou de vandalismo, mas inevitavelmente uma forma de expressão.
A maioria das pessoas têm em mente que intervenção
urbana é caracterizada apenas pelo graffiti e pela pichação. O primeiro
é considerado como arte e o segundo como vandalismo, sendo menos populares
outras formas de intervenções como o stencil, sticker e
lambe-lambe. Isso foi constatado por meio de dois grupos focais, realizados na
UniBrasil e no Museu Oscar Niemeyer, a primeira com público de 36 a 60 anos e a
segunda de 18 a 35, que tinham por objetivo verificar se havia divergência de
opinião em relação ao que a Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos
Interdisciplinares da Comunicação XXI Prêmio Expocom 2014 – Exposição da
Pesquisa Experimental em Comunicação população da cidade de Curitiba entendia
por intervenção visual urbana. Os resultados foram positivos.
Os entrevistados entendem que ambas as expressões
estão vinculadas à cultura e à educação da sociedade e que variam conforme sua
localidade e depende de que forma a população a considera. Não acreditam que
esse tipo de manifestação deva ir para galerias, pois, segundo eles, perderá
toda a sua essência, e talvez, até mesmo sua característica principal: intervir
na sociedade. Também afirmaram já terem assistido a programas sobre graffiti
e pichação em canais fechados, que possuem públicos específicos e voltados
para esse assunto e por conta disso atendem a essa demanda, porém em TV aberta
as poucas matérias exibidas não aprofundam o assunto, apenas sinalizam a
expressão do graffiti e da pichação de forma superficial.
Essa afirmação veio por meio da análise de conteúdo de
50 edições online do programa PLUG!6, disponibilizadas no site
do mesmo. Identificou-se que a mídia aberta especializada pouco ou quase
nunca publica matérias com abordagens sobre a temática. Em um ano, apenas uma
edição abordava a intervenção urbana, num total de 25 minutos da atração,
apenas 3’21’’ foram destinados ao tema. Todas essas questões endossam a
importância da criação deste documentário para disponibilizar uma visão mais
aprofundada das intervenções e também para que o mesmo possa servir de base
para outros projetos.
Pela capacidade que têm o filme e a fita de áudio de
registrar situações e acontecimentos com notável fidelidade, vemos nos
documentários pessoas, lugares e coisas que também poderíamos ver por nós
mesmos. Essa característica, por si só, muitas vezes fornece uma base para
crença: vemos o que estava lá, diante da câmera; deve ser verdade (NICHOLS,
2010, p.28).
Bill Nichols define dois tipos de filme: documentário
de satisfação de desejos e documentários de representação social (2010, p. 26).
Desta forma, o Expressão da Rua foi embasado no segundo tipo, através da
representação do meio urbano, e também social, transmitindo ao público a
relevância deste tema.
Como se tratam de projeções visuais, o
vídeodocumentário foi a melhor maneira encontrada para a abordagem das
intervenções, visto que o mesmo engaja-se pela representação do mundo através
de imagens. O documentário tem o poder da democracia representativa e da
capacidade de influência. Se elaborado de forma coerente, se aproxima dos
princípios éticos da neutralidade e imparcialidade. Muitas vezes ele assume o
papel do público, dando voz e falando do interesse dos outros. Sendo assim,
optou-se também em Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos
Interdisciplinares da Comunicação XXI Prêmio Expocom 2014 – Exposição da
Pesquisa Experimental em Comunicação realizar um documentário participativo,
pois a observação decorre do envolvimento na causa.
Se há uma verdade aí, é a verdade de uma forma de
interação, que não existiria se não fosse pela câmera. Assim, ela é o oposto da
premissa observativa, segundo a qual o que vemos é o que teríamos visto se
estivéssemos lá no lugar da câmera. No documentário participativo o que vemos é
o que podemos ver apenas quando a câmera, ou cineasta, está lá em nosso lugar.
(NICHOLS, 2010, p.155).
A multiplicação de novas mídias e aparatos
tecnológicos faz com que consequentemente surjam também novos cenários urbanos,
que por muitas vezes tornam-se o local de trocas simbólicas e convívio social.
A forma com que isso é apresentado na mídia impacta diretamente em questões
futuras, já que comunicação e cidade sofrem permanentes e volumosas
reconfigurações. Assim, os dispositivos midiáticos dão suporte para a criação
da memória social, uma vez que a parede que está pichada hoje pode ser
derrubada amanhã. Mas será só por meio do jornalismo e da história que as
gerações futuras poderão compreender tal fenômeno.
Com a diversidade de ideologias e opiniões presentes
na arte visual urbana da cidade de Curitiba, este trabalho mostrou essas diferentes
realidades e promoveu uma discussão entre os artistas, dando espaço para eles
expressarem a opinião individual sobre o motivo pelo qual os levam às ruas, ou
seja, onde interveem e porque interveem. Tal discussão teve gancho com a
campanha "Despiche Curitiba", realizada pela Associação Comercial do
Estado do Paraná e lançada pela Prefeitura de Curitiba no início de 2013, que
organizou um mutirão para limpar pichações na cidade. Ou seja, o momento é
propício para que o tema seja colocado em pauta.
Como sem receptor não há mensagem, as intervenções
passam a ter uma expressão social apenas quando em contato com o público que
transita pelas ruas. Dessa forma, o vídeodocumentário também deu espaço à
opinião dos curitibanos sobre as obras registradas, bem como levou a discussão
até órgãos públicos como a Guarda Municipal e Prefeitura, contribuindo para
enriquecer os diferentes pontos de vista e também a linguagem do documentário.
4.
Metodologia e Estratégia de Ação
Para qualificar esse trabalho foram utilizados alguns
métodos de pesquisa científica que tinham por objetivo dar veracidade aos fatos
estudados, todos baseados no livro de Intercom – Sociedade Brasileira de
Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXI Prêmio Expocom 2014 – Exposição
da Pesquisa Experimental em Comunicação Antonio Carlos Gil, porém como não há
espaço suficiente para descrevê-los, o livro está citado na bibliografia.
O vídeodocumentário Expressão da Rua7 é um
média-metragem que, conforme definições da Agência Nacional do Cinema, se
refere a projetos audiovisuais com duração superior a 15 minutos e inferior ou
igual a 70 minutos. Também foi editada uma prévia de 3 minutos, com base na
estrutura do filme, para veiculação e divulgação nas ruas, através de mapping/projetores,
e em mídias com acesso a internet. O projeto acadêmico experimental fica por
depender de patrocínio para a gravação e distribuição de cópias em DVD.
Todavia, o intuito é que o material chegue ao consumidor final sem nenhum custo.
Desta forma, tanto na prévia para as ruas quanto para a internet, há
informações revelando o endereço digital onde o documentário poderá ser baixado
de maneira legal e gratuita.
4.1. Entrevistas e fontes
Além de registrar a ação e o depoimento de interventores
urbanos que se expressam e misturam o maior número de técnicas possíveis (como
exemplo a pichação, o graffiti, o stencil, o lambe-lambe, o sticker
e outros), também foram usadas como fontes, pessoas envolvidas no ramo,
desde proprietários de lojas de artigos para interventores até músicos,
organizadores de eventos, pesquisadores e pessoas que estavam ligadas aos
movimentos de alguma forma. Também foram feitas entrevistas com representantes
de órgãos públicos e outras pessoas que entraram em contato com intervenções
para enriquecer o documentário, como a própria população e representantes de
entidades como a Prefeitura Municipal de Curitiba, a Guarda Municipal e
diretores de galerias. As entrevistas ocorreram em diversos locais, inclusive
antes, durante ou logo após a realização da intervenção.
As fontes entendidas como não oficiais entrevistadas
no documentário incluem João Paulo Rotava, que assina como Bolacha, e é
conhecido por usar cores chamativas ao pintar personagens e cenas. Ele é responsável
pelos desenhos feitos na sede da Rádio 98 FM e na casa de shows Curitiba Master
Hall, mas tem diversas obras espalhadas pelo centro e pela zona sul da cidade.
No graffiti houve entrevista com lojista e organizador cultural Devis, e
Café, interventor desde os 14 anos, estudante de teologia e desenho, é um dos
maiores nomes de Curitiba. A crew8 Artstenciva é conhecida
nos muros da capital por pintar rostos utilizando várias camadas de stencil e
foi representada pelo interventor Dimas, e Roger Wodzynski conhecido como
“Olho”, também falou sobre o segmento. Há também as Intercom – Sociedade
Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXI Prêmio Expocom 2014
– Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação intervenções de crews como
Os Cretinos, uma das mais antigas ainda em atividade que contou com a
participação de Diego Arantes, mais conhecido com “DG” e de Crel representando
“Os Poetas”. Imagens das intervenções da crew NERD, conhecidos por
pintarem letras gigantes nas laterais de prédios utilizando extintores também
foram utilizadas. Os pichadores Crika e Gorfo também deram depoimento e
opinaram sobre o assunto. KxE foi um dos poucos representantes do sticker e
abriu literalmente a porta do seu quarto para mostrar sua rara coleção de adesivos.
Pedro Vieira e Fagner Cunha, criadores da “Galeria sem Licença”, que trata-se
de uma exposição a céu aberto com inúmeros lambes que mudam com frequência,
falaram em nome dessa categoria. Cristiano Machado, estudante de filosofia, o
professor de geopolítica, “Repolho”, o produtor musical Lauro, a produtora
Michele Micheletto e comerciantes como Willians Batista e Gislaine Coelho,
estão entre as pessoas que participaram do vídeodocumentário representando o
público, e não distintos por raça, idade, grau escolar ou diferenciados por
gênero. As fontes oficiais foram representadas por Marili Azim, coordenadora de
Artes Visuais da Fundação Cultural de Curitiba, Claudio Frederico de Carvalho,
diretor da Guarda Municipal de Curitiba, Elizabeth Prosser, professora
pesquisadora da Faculdade de Belas Artes do Paraná, Fernando Francischini,
deputado federal do PSDB.
4.2. Procedimentos de produção
Com os objetivos definidos, iniciaram-se as gravações,
em primeira estância, com as vozes analisadas como “oficiais”, por se tratarem
de pessoas públicas, como Marili Azim, que trabalha na Fundação Cultural,
secretária da Prefeitura de Curitiba, o deputado federal Fernando Francischini,
fundador da lei “educar sem punir”, que por sua vez teve como braço a campanha
“Pichação é Crime: Denuncie”, o diretor da Guarda Municipal Frederico Carvalho,
que palestra para os menores que são pegos pichando e Elisabeth Prosser, uma
pesquisadora da área de intervenções na capital paranaense. No segundo momento,
iniciaram-se as entrevistas com os próprios interventores (tanto grafiteiros,
quanto pichadores e afins) e também com o público em geral, e até mesmo
comerciantes que participaram de um projeto de revitalização da Rua São
Francisco, explicada no vídeo.
É importante ressaltar a diferença desses dois
momentos, pois foram a partir deles que a conclusão sobre o tema estudado foi
sendo compreendida. Os primeiros entrevistados, ou as vozes oficiais, expuseram
as opiniões deles de uma forma mais objetiva e em muitos casos, falando em nome
de algum órgão, o que fez com que a entrevista fosse mais precisa, no sentido
de como eles entendem as intervenções. Também é importante dizer que, mesmo
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XXI Prêmio Expocom 2014 – Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação
entre órgãos oficiais, há uma grande divergência de discursos e até mesmo no
modo de classificar essas intervenções, uma vez que a Guarda Municipal não
segue a risca a nomenclatura que os livros citados no primeiro capítulo indicam
como “pichação” ou “graffiti”. Por exemplo, segundo eles, tudo que é
ilegal é considerado pichação, independente de ser apenas uma tag9
ou mesmo um desenho mais elaborado, já o graffiti, seja ele colorido ou
mesmo um lambe-lambe, significa tudo que está de acordo com a lei. Ou seja, o
próprio órgão oficial, não se atenta a nomear as intervenções de acordo com as
premissas que os autores que estudam essas manifestações aderem. Assim como nas
vozes oficiais, os entrevistados também divergem muito em relação a como
consideram o que fazem. Alguns acreditam que é arte, pois é uma forma de levar
à população algo que muitas vezes está restrito a museus. Outros acreditam que
não é arte e apenas realizam algo que lhes dá adrenalina, causa prazer e
emoção.
5.
Considerações Finais
Com base no que foi proposto no primeiro momento desse
trabalho, o intuito de não aplicar predefinições ou julgamentos, colocar os
entrevistas não como objeto de análise, mas sim como uma pessoa comum que
discute sobre o que faz e tentar ser apartidário, foram de fato, consentidos no
Expressão da Rua. Por meio das entrevistas observou-se que realmente as
intervenções urbanas não são isoladas, elas significam algo relevante para
alguns e para outros são apenas uma forma de expressar o que pensam. Muitos interventores
realizam as pinturas como um movimento de rebeldia, um grito pelo que
acreditam, ou simplesmente para serem conhecidos nesse meio e algumas delas
ainda se preocupam em disseminar um viés político. Algumas intervenções ainda
são feitas apenas para demarcar território, dar emoção ou causar sentimentos
dos mais diversos. É como entender uma obra de arte, que pode representar desde
uma crítica até uma necessidade de escape emocional – e ambas podem ter sido
causadas pelo mesmo contexto político e temporal.
Outro fato que vale ser comentado é que não há apenas
uma pluralidade de conceitos, mas também de gêneros, dentro do contexto dessas
manifestações. Assim como elas, os interventores não são isoladamente da
periferia, da classe média ou alta. Existem de todos os tipos, escolarizados,
negros, brancos, pardos e não é um movimento da “favela”, como muitas pessoas
acreditam. A própria Guarda Municipal contou casos de executivos Intercom –
Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXI Prêmio
Expocom 2014 – Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação que fazem
pichação, mesmo usando terno e gravata. O respeito dentro dessa tribo é
bastante tênue, pois um grafiteiro não faz sua obra em um muro já pichado sem
antes pedir a autorização do autor da tag. E se faz, logo é “atropelado10”
pelo antigo autor. Em relação ao público, a diferença é menos evidente, poucos
são os que diferem um do outro, ou que conhece as outras intervenções como o stencil
e o sticker. O graffiti, além de ser classificado como
artístico e visualmente mais bonito, muitas vezes é adotado para evitar outras
formas de manifestação, como foi o caso da Rua São Francisco, onde mais de 25
comerciantes aderiram a essa intervenção em suas portas para que elas não
fossem pichadas.
Com base no que foi estudado, agora voltado à
comunicação e não somente a sociologia, o que fica evidente é que a mídia
interfere diretamente na concepção que a população tem sobre certos temas (que
muitas vezes é até desconhecido por eles) e que esses, por sua vez, se utilizam
do que é proposto pela televisão para que formem opinião sobre o assunto. Não é
de hoje que a imprensa desempenha o papel de informar e de formar opinião, uma
vez que rádio e televisão são os meios de maior propagação de ideias e da
comunicação de massa.
Desta forma, pôde-se concluir que todos esses fatores
se interligam e convergem para um mesmo ponto: a falta de matérias
especializadas que abordem o assunto de forma mais abrangente e comuniquem ao
público os inúmeros desdobramentos que esse tema pode ter. A mudança da cidade
foi visível nos seis meses do desenvolvimento do trabalho, pois muitos locais
que o documentário iria ter como imagens já não existiam mais, aí ressalta-se o
fator noticioso, jornalístico e de memória que esse trabalho pode trazer para a
cidade. É notável que esse contexto gera um círculo vicioso, uma vez que a não
publicação de matérias sobre o tema acaba acarretando todas as questões citadas
acima, pois se não há informação, não há conhecimento e consequentemente um
equívoco até mesmo na nomenclatura de tais processos, uma vez que para a Guarda
Municipal de Curitiba, por exemplo, tudo que é ilegal conceitua-se como
“Pichação”, independente de ser uma desenho com mais bagagem técnica e
estilizado, e já o “Grafite” é entendido como as intervenções legais, mesmo
tratando-se apenas de uma tag ou uma assinatura. A falta de conhecimento
se multiplica em relação as outras formas culturais que também poderiam ser
exploradas pela mídia, visto que até mesmo para o Expressão da Rua foi difícil
encontrar interventores de outras nichos como o stencil, o sticker e
o lambe-lambe. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da
Comunicação XXI Prêmio Expocom 2014 – Exposição da Pesquisa Experimental em
Comunicação
Por isso, confirmando os objetivos do projeto, que
trouxe ao público a discussão sobre o assunto, de forma a entender como a
sociedade, interventores e órgãos oficiais conceituam tais modalidades de
intervenção e investigou o espaço urbano, compreendendo que sim, ele é propício
ao desenvolvimento desse tipo de manifestação por ser compreendido como
“público” e logicamente como local de visibilidade mútua, e ainda por contar
com uma divulgação que atende a toda a sociedade, sem filtros de classificação,
a intenção é que o Expressão da Rua seja fonte, não somente de estudos, mas da
instigação do pensamento crítico. O público alvo não é específico, justamente
para que a informação se propague, atinja a todos os interessados pelo assunto
ou não, mesmo que ele tenha apenas o conhecimento prévio e que por meio do
documentário possa criar uma ideia exclusiva e pessoal sobre tais movimentos.
Nesse contexto e para a disseminação generalizada do tema, foi enviado à
Prefeitura de Curitiba um projeto para a divulgação do Expressão da Rua, na
Cinemaeteca de Curitiba, e o evento que inicialmente era para apenas 100
pessoas, teve que ter mais um sessão, pois o público dobrou.
O graffiti, a pichação, o stencil, o sticker
e o lambe-lambe são apenas algumas das formas de intervir nas ruas. A ideia
central desse trabalho, além de promover o conhecimento sobre esse tema, é
principalmente de levantar discussão sobre projetos que interferem, de forma
positiva ou negativa na sociedade e que sobretudo precisam ser debatidos,
entendidos e estudados, pois podem ou não agregar história para a cidade em que
estão presentes. Esse é o fundamento do projeto, auxiliar na construção de uma
memória que não é feita apenas por livros didáticos ou algo do gênero, mas que
subjetivamente ganha valor com coisas simples, projetos acadêmicos, imagens,
áudios, vídeos e informações aprofundadas.
6.
Bibliografia
GIL,
Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. Atlas: São Paulo, 5ª
ed., 1999.
GITAHY,
Celso. O que é Grafite. Ed.Braziliense: São Paulo, 1999.
NICHOLS,
Bill. Introdução ao documentário. 5ª ed., 2010.
RIBEIRO,
Ana Paula Goular; FERREIRA, Maria Alves. Mídia e memória: a produção de
sentidos nos meios de comunicação. Mauad: Rio de Janeiro, 2007.
LINK
DO DOCUMENTÁRIO: http://www.youtube.com/watch?v=BMQo5Hh3Q7g
1 Trabalho submetido ao XXI Prêmio
Expocom 2014, na Categoria Cinema e Audiovisual, modalidade Filme de não
ficção/ documentário/ docudrama.
2 Aluna líder do grupo e graduada
em Jornalismo, e-mail: liscremin@hotmail.com.
3 Coautor do projeto e graduado em
jornalismo, e-mail: matheusgasparinr@gmail.com.
4 Orientadora do trabalho.
Professora do curso de Jornalismo, e-mail: elainejavorski@hotmail.com.
5 Link para assistir no Youtube:
http://www.youtube.com/watch?v=BMQo5Hh3Q7g
6 Análise da programação durante o
período de março de 2012 a março de 2013
7 Link para visualizar o
documentário no Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=BMQo5Hh3Q7g
8 Coletivo de interventores
9 Assinatura do interventor
10 Atropelo: intervir sobre uma
intervenção. Para ser mais claro, se um grafiteiro faz o grafite em cima de uma
pichação, logo o pichador volta e deixa novamente sua marca sobre o grafite,
como se fosse a lei do mais forte
FONTE: https://www.portalintercom.org.br/anais/sul2014/expocom/EX40-0455-1.pdf
Link Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=BMQo5Hh3Q7g
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Inspetor Frederico