06 maio 2022

Expressão da Rua: Documentário Sobre a Intervenção Visual Urbana em Curitiba (REPOSTANDO)

 

Compartilho abaixo, considerável trabalho acadêmico realizado no campo da comunicação, intitulado: "Expressão da Rua: Documentário Sobre a Intervenção Visual Urbana em Curitiba”.

Elaborado pelos alunos Liege Scremin Mizga e Matheus Gasparin Regis, sob a supervisão e orientação da Professora Elaine Javorski da UniBrasil, Curitiba, PR.

Apresentando na Expocom 2014 - Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação, promovido pela Intercom (Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação)

Abaixo, na íntegra, compartilho o referenciado artigo, também disponível no site Portal Intercom acesso em : <https://www.portalintercom.org.br/anais/sul2014/expocom/EX40-0455-1.pdf>

 



 

#repostando:

**********************************************************************

Expressão da Rua: Documentário Sobre a Intervenção Visual Urbana em Curitiba1

*************************************************************************************

 

Liege Scremin Mizga2

Matheus Gasparin Regis3

Elaine Javorski4

UniBrasil, Curitiba, PR

 

RESUMO

 

O vídeodocumentário Expressão da Rua5 aborda o contexto da intervenção visual urbana em Curitiba, dando ênfase aos fatos de maior expressão sobre o tema na cidade. Segundo as pesquisas realizadas (análise de conteúdo, documental e grupo focal), poucas pessoas conseguem diferenciar as inúmeras formas de intervir no ambiente urbano. Por isso, foram estudadas manifestações que estão inseridas nesse contexto, como o graffiti, a pichação, o stencil, o sticker e o lambe-lambe, ouvindo interventores, cidadãos e também órgãos públicos. Por fim, vale ressaltar que para criação deste trabalho foram levados em conta os princípios éticos que regem o jornalismo, assim como suas técnicas e a importância que ele representa para a criação da memória coletiva da sociedade. As conclusões apontaram para uma defasagem de registros desse cunho na mídia paranaense especializada.

 

PALAVRAS-CHAVE: intervenção visual urbana; videodocumentário; jornalismo;

 

1. Introdução

 

A transformação é a constante que move os dias atuais. Seja na arquitetura, na cultura ou no modo de pensar de cada pessoa, a mudança faz parte do contexto. Parece clichê, mas não há como entender o presente sem saber o que, no passado, poderia ter influenciado tais manifestações. A abordagem deste documentário trata de um aspecto sobre o jornalismo como fonte de memória coletiva e o objeto de estudo deu-se por meio das intervenções urbanas na cidade de Curitiba, no Paraná.

Segundo as autoras Ana Paula Goular Ribeiro e Lucia Maria Alves Ferreira (2007, p.7), os meios de comunicação desempenham, nas sociedades contemporâneas, um papel Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXI Prêmio Expocom 2014 – Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação crucial na produção de uma ideia de história e de memória. Ao mediar a relação dos sujeitos com as transformações do seu cotidiano, produzem no âmbito do senso comum, sentidos para os processos históricos nos quais esses sujeitos estão inseridos.

Após dois centenários da criação da mídia, a produção deste trabalho veio ressaltar a importância do aspecto jornalístico, não apenas para a produção da memória visual e arquitetônica de Curitiba, mas também para complementar o que há mais de 200 anos tem relevância histórica e social –o valor notícia, assim como entender o que leva os interventores às ruas e o que a população acha sobre tais manifestações.

O vídeo documentário Expressão da Rua colocou os personagens como fonte principal de narração, fazendo com que, assim, a opinião dos mesmos fosse ouvida e de modo a evitar algum tipo de distorção de informações, uma vez que muitos produtos como esse, antecedem um conceito opinativo. O que se procurou mostrar é que a intervenção urbana não necessita de classificação e que ela é inevitavelmente uma forma de manifestação.

Celso Gitahy (1999, p.11) afirma que o vestígio mais fascinante deixado pelo homem através do tempo foi a produção artística, entre elas os desenhos feitos nas cavernas. “Não sabemos exatamente o que levou o homem das cavernas a fazer essas pinturas, mas o importante é que ele já possuía uma linguagem simbólica própria”. Desta forma, além de conceitos técnicos sobre intervenção urbana, este projeto tratou também das questões de como elaborar um documentário, enfatizando principalmente a parte de entrevistas e edição, assim como a importância de utilizar os princípios e bases éticas do jornalismo para compor o produto final.

A análise aprofundada sobre o assunto teve como fonte de pesquisa, bibliografias de historiadores, jornalistas, artistas entre outros. Desta forma para mostrar que poucas pessoas compreendiam o tema “intervenção urbana” e a diferença entre seus diversos tipos, foram utilizados métodos científicos como grupo focal, pesquisa exploratória e análise de conteúdo.

O Expressão da Rua é um média-metragem com duração de cerca de 30 minutos, que também tem uma edição prévia de 3 minutos, para veiculação e divulgação nas ruas e em mídias com acesso a internet. O propósito foi realizar um vídeo com imagens dinâmicas e espontâneas, sem perder ações fundamentais, não enfatizando tanto a preocupação técnica, em benefício de garantir o registro de momentos oportunos. O enfoque do documentário Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXI Prêmio Expocom 2014 – Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação acabou priorizando o graffiti e a pichação, pela falta de interventores em Curitiba, de sticker, lambe-lambe e stencil, mas sem deixá-los de lado.

 

2. Objetivo

 

2.1.Objetivo Geral

Mostrar as diferentes formas de intervenção visual urbana em Curitiba, por meio de um documentário jornalístico, dando voz aos interventores e ao público, para que haja uma reflexão sobre esse tipo de expressão.

 

2.2.    Objetivos Específicos

2.2.1.Investigar o espaço urbano como ambiente que propicia o desenvolvimento da intervenção visual;

2.2.2.Levantar discussão sobre o tema, de forma a mostrar as diferentes opiniões, tanto do público quanto de interventores e autoridades.

2.2.3. Preservar a memória cultural da cidade por meio do vídeodocumentário, uma vez que trata-se de um tema bastante perene e que está em constante mudança;

 

3. Justificativa

 

O documentário em questão, produto de conclusão de curso, mostrou uma abordagem jornalística sobre intervenção visual em Curitiba, pois foi identificado por meio de pesquisas que os trabalhos monográficos já realizados referentes ao assunto consideram a intervenção como uma forma de arte que assume diferentes significados para o público, de modo a já o classificar. Sendo assim, foi necessária trazer uma discussão que antecede esse conceito, ou seja, que a interpretação das intervenções nem sempre significam uma forma de arte ou de vandalismo, mas inevitavelmente uma forma de expressão.

A maioria das pessoas têm em mente que intervenção urbana é caracterizada apenas pelo graffiti e pela pichação. O primeiro é considerado como arte e o segundo como vandalismo, sendo menos populares outras formas de intervenções como o stencil, sticker e lambe-lambe. Isso foi constatado por meio de dois grupos focais, realizados na UniBrasil e no Museu Oscar Niemeyer, a primeira com público de 36 a 60 anos e a segunda de 18 a 35, que tinham por objetivo verificar se havia divergência de opinião em relação ao que a Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXI Prêmio Expocom 2014 – Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação população da cidade de Curitiba entendia por intervenção visual urbana. Os resultados foram positivos.

Os entrevistados entendem que ambas as expressões estão vinculadas à cultura e à educação da sociedade e que variam conforme sua localidade e depende de que forma a população a considera. Não acreditam que esse tipo de manifestação deva ir para galerias, pois, segundo eles, perderá toda a sua essência, e talvez, até mesmo sua característica principal: intervir na sociedade. Também afirmaram já terem assistido a programas sobre graffiti e pichação em canais fechados, que possuem públicos específicos e voltados para esse assunto e por conta disso atendem a essa demanda, porém em TV aberta as poucas matérias exibidas não aprofundam o assunto, apenas sinalizam a expressão do graffiti e da pichação de forma superficial.

Essa afirmação veio por meio da análise de conteúdo de 50 edições online do programa PLUG!6, disponibilizadas no site do mesmo. Identificou-se que a mídia aberta especializada pouco ou quase nunca publica matérias com abordagens sobre a temática. Em um ano, apenas uma edição abordava a intervenção urbana, num total de 25 minutos da atração, apenas 3’21’’ foram destinados ao tema. Todas essas questões endossam a importância da criação deste documentário para disponibilizar uma visão mais aprofundada das intervenções e também para que o mesmo possa servir de base para outros projetos.

 

Pela capacidade que têm o filme e a fita de áudio de registrar situações e acontecimentos com notável fidelidade, vemos nos documentários pessoas, lugares e coisas que também poderíamos ver por nós mesmos. Essa característica, por si só, muitas vezes fornece uma base para crença: vemos o que estava lá, diante da câmera; deve ser verdade (NICHOLS, 2010, p.28).

 

Bill Nichols define dois tipos de filme: documentário de satisfação de desejos e documentários de representação social (2010, p. 26). Desta forma, o Expressão da Rua foi embasado no segundo tipo, através da representação do meio urbano, e também social, transmitindo ao público a relevância deste tema.

Como se tratam de projeções visuais, o vídeodocumentário foi a melhor maneira encontrada para a abordagem das intervenções, visto que o mesmo engaja-se pela representação do mundo através de imagens. O documentário tem o poder da democracia representativa e da capacidade de influência. Se elaborado de forma coerente, se aproxima dos princípios éticos da neutralidade e imparcialidade. Muitas vezes ele assume o papel do público, dando voz e falando do interesse dos outros. Sendo assim, optou-se também em Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXI Prêmio Expocom 2014 – Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação realizar um documentário participativo, pois a observação decorre do envolvimento na causa.

 

Se há uma verdade aí, é a verdade de uma forma de interação, que não existiria se não fosse pela câmera. Assim, ela é o oposto da premissa observativa, segundo a qual o que vemos é o que teríamos visto se estivéssemos lá no lugar da câmera. No documentário participativo o que vemos é o que podemos ver apenas quando a câmera, ou cineasta, está lá em nosso lugar. (NICHOLS, 2010, p.155).

 

A multiplicação de novas mídias e aparatos tecnológicos faz com que consequentemente surjam também novos cenários urbanos, que por muitas vezes tornam-se o local de trocas simbólicas e convívio social. A forma com que isso é apresentado na mídia impacta diretamente em questões futuras, já que comunicação e cidade sofrem permanentes e volumosas reconfigurações. Assim, os dispositivos midiáticos dão suporte para a criação da memória social, uma vez que a parede que está pichada hoje pode ser derrubada amanhã. Mas será só por meio do jornalismo e da história que as gerações futuras poderão compreender tal fenômeno.

Com a diversidade de ideologias e opiniões presentes na arte visual urbana da cidade de Curitiba, este trabalho mostrou essas diferentes realidades e promoveu uma discussão entre os artistas, dando espaço para eles expressarem a opinião individual sobre o motivo pelo qual os levam às ruas, ou seja, onde interveem e porque interveem. Tal discussão teve gancho com a campanha "Despiche Curitiba", realizada pela Associação Comercial do Estado do Paraná e lançada pela Prefeitura de Curitiba no início de 2013, que organizou um mutirão para limpar pichações na cidade. Ou seja, o momento é propício para que o tema seja colocado em pauta.

Como sem receptor não há mensagem, as intervenções passam a ter uma expressão social apenas quando em contato com o público que transita pelas ruas. Dessa forma, o vídeodocumentário também deu espaço à opinião dos curitibanos sobre as obras registradas, bem como levou a discussão até órgãos públicos como a Guarda Municipal e Prefeitura, contribuindo para enriquecer os diferentes pontos de vista e também a linguagem do documentário.

 

4. Metodologia e Estratégia de Ação

 

Para qualificar esse trabalho foram utilizados alguns métodos de pesquisa científica que tinham por objetivo dar veracidade aos fatos estudados, todos baseados no livro de Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXI Prêmio Expocom 2014 – Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação Antonio Carlos Gil, porém como não há espaço suficiente para descrevê-los, o livro está citado na bibliografia.

O vídeodocumentário Expressão da Rua7 é um média-metragem que, conforme definições da Agência Nacional do Cinema, se refere a projetos audiovisuais com duração superior a 15 minutos e inferior ou igual a 70 minutos. Também foi editada uma prévia de 3 minutos, com base na estrutura do filme, para veiculação e divulgação nas ruas, através de mapping/projetores, e em mídias com acesso a internet. O projeto acadêmico experimental fica por depender de patrocínio para a gravação e distribuição de cópias em DVD. Todavia, o intuito é que o material chegue ao consumidor final sem nenhum custo. Desta forma, tanto na prévia para as ruas quanto para a internet, há informações revelando o endereço digital onde o documentário poderá ser baixado de maneira legal e gratuita.

 

4.1. Entrevistas e fontes

Além de registrar a ação e o depoimento de interventores urbanos que se expressam e misturam o maior número de técnicas possíveis (como exemplo a pichação, o graffiti, o stencil, o lambe-lambe, o sticker e outros), também foram usadas como fontes, pessoas envolvidas no ramo, desde proprietários de lojas de artigos para interventores até músicos, organizadores de eventos, pesquisadores e pessoas que estavam ligadas aos movimentos de alguma forma. Também foram feitas entrevistas com representantes de órgãos públicos e outras pessoas que entraram em contato com intervenções para enriquecer o documentário, como a própria população e representantes de entidades como a Prefeitura Municipal de Curitiba, a Guarda Municipal e diretores de galerias. As entrevistas ocorreram em diversos locais, inclusive antes, durante ou logo após a realização da intervenção.

As fontes entendidas como não oficiais entrevistadas no documentário incluem João Paulo Rotava, que assina como Bolacha, e é conhecido por usar cores chamativas ao pintar personagens e cenas. Ele é responsável pelos desenhos feitos na sede da Rádio 98 FM e na casa de shows Curitiba Master Hall, mas tem diversas obras espalhadas pelo centro e pela zona sul da cidade. No graffiti houve entrevista com lojista e organizador cultural Devis, e Café, interventor desde os 14 anos, estudante de teologia e desenho, é um dos maiores nomes de Curitiba. A crew8 Artstenciva é conhecida nos muros da capital por pintar rostos utilizando várias camadas de stencil e foi representada pelo interventor Dimas, e Roger Wodzynski conhecido como “Olho”, também falou sobre o segmento. Há também as Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXI Prêmio Expocom 2014 – Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação intervenções de crews como Os Cretinos, uma das mais antigas ainda em atividade que contou com a participação de Diego Arantes, mais conhecido com “DG” e de Crel representando “Os Poetas”. Imagens das intervenções da crew NERD, conhecidos por pintarem letras gigantes nas laterais de prédios utilizando extintores também foram utilizadas. Os pichadores Crika e Gorfo também deram depoimento e opinaram sobre o assunto. KxE foi um dos poucos representantes do sticker e abriu literalmente a porta do seu quarto para mostrar sua rara coleção de adesivos. Pedro Vieira e Fagner Cunha, criadores da “Galeria sem Licença”, que trata-se de uma exposição a céu aberto com inúmeros lambes que mudam com frequência, falaram em nome dessa categoria. Cristiano Machado, estudante de filosofia, o professor de geopolítica, “Repolho”, o produtor musical Lauro, a produtora Michele Micheletto e comerciantes como Willians Batista e Gislaine Coelho, estão entre as pessoas que participaram do vídeodocumentário representando o público, e não distintos por raça, idade, grau escolar ou diferenciados por gênero. As fontes oficiais foram representadas por Marili Azim, coordenadora de Artes Visuais da Fundação Cultural de Curitiba, Claudio Frederico de Carvalho, diretor da Guarda Municipal de Curitiba, Elizabeth Prosser, professora pesquisadora da Faculdade de Belas Artes do Paraná, Fernando Francischini, deputado federal do PSDB.

 

4.2. Procedimentos de produção

Com os objetivos definidos, iniciaram-se as gravações, em primeira estância, com as vozes analisadas como “oficiais”, por se tratarem de pessoas públicas, como Marili Azim, que trabalha na Fundação Cultural, secretária da Prefeitura de Curitiba, o deputado federal Fernando Francischini, fundador da lei “educar sem punir”, que por sua vez teve como braço a campanha “Pichação é Crime: Denuncie”, o diretor da Guarda Municipal Frederico Carvalho, que palestra para os menores que são pegos pichando e Elisabeth Prosser, uma pesquisadora da área de intervenções na capital paranaense. No segundo momento, iniciaram-se as entrevistas com os próprios interventores (tanto grafiteiros, quanto pichadores e afins) e também com o público em geral, e até mesmo comerciantes que participaram de um projeto de revitalização da Rua São Francisco, explicada no vídeo.

É importante ressaltar a diferença desses dois momentos, pois foram a partir deles que a conclusão sobre o tema estudado foi sendo compreendida. Os primeiros entrevistados, ou as vozes oficiais, expuseram as opiniões deles de uma forma mais objetiva e em muitos casos, falando em nome de algum órgão, o que fez com que a entrevista fosse mais precisa, no sentido de como eles entendem as intervenções. Também é importante dizer que, mesmo Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXI Prêmio Expocom 2014 – Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação entre órgãos oficiais, há uma grande divergência de discursos e até mesmo no modo de classificar essas intervenções, uma vez que a Guarda Municipal não segue a risca a nomenclatura que os livros citados no primeiro capítulo indicam como “pichação” ou “graffiti”. Por exemplo, segundo eles, tudo que é ilegal é considerado pichação, independente de ser apenas uma tag9 ou mesmo um desenho mais elaborado, já o graffiti, seja ele colorido ou mesmo um lambe-lambe, significa tudo que está de acordo com a lei. Ou seja, o próprio órgão oficial, não se atenta a nomear as intervenções de acordo com as premissas que os autores que estudam essas manifestações aderem. Assim como nas vozes oficiais, os entrevistados também divergem muito em relação a como consideram o que fazem. Alguns acreditam que é arte, pois é uma forma de levar à população algo que muitas vezes está restrito a museus. Outros acreditam que não é arte e apenas realizam algo que lhes dá adrenalina, causa prazer e emoção.

 

5. Considerações Finais

 

Com base no que foi proposto no primeiro momento desse trabalho, o intuito de não aplicar predefinições ou julgamentos, colocar os entrevistas não como objeto de análise, mas sim como uma pessoa comum que discute sobre o que faz e tentar ser apartidário, foram de fato, consentidos no Expressão da Rua. Por meio das entrevistas observou-se que realmente as intervenções urbanas não são isoladas, elas significam algo relevante para alguns e para outros são apenas uma forma de expressar o que pensam. Muitos interventores realizam as pinturas como um movimento de rebeldia, um grito pelo que acreditam, ou simplesmente para serem conhecidos nesse meio e algumas delas ainda se preocupam em disseminar um viés político. Algumas intervenções ainda são feitas apenas para demarcar território, dar emoção ou causar sentimentos dos mais diversos. É como entender uma obra de arte, que pode representar desde uma crítica até uma necessidade de escape emocional – e ambas podem ter sido causadas pelo mesmo contexto político e temporal.

Outro fato que vale ser comentado é que não há apenas uma pluralidade de conceitos, mas também de gêneros, dentro do contexto dessas manifestações. Assim como elas, os interventores não são isoladamente da periferia, da classe média ou alta. Existem de todos os tipos, escolarizados, negros, brancos, pardos e não é um movimento da “favela”, como muitas pessoas acreditam. A própria Guarda Municipal contou casos de executivos Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXI Prêmio Expocom 2014 – Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação que fazem pichação, mesmo usando terno e gravata. O respeito dentro dessa tribo é bastante tênue, pois um grafiteiro não faz sua obra em um muro já pichado sem antes pedir a autorização do autor da tag. E se faz, logo é “atropelado10” pelo antigo autor. Em relação ao público, a diferença é menos evidente, poucos são os que diferem um do outro, ou que conhece as outras intervenções como o stencil e o sticker. O graffiti, além de ser classificado como artístico e visualmente mais bonito, muitas vezes é adotado para evitar outras formas de manifestação, como foi o caso da Rua São Francisco, onde mais de 25 comerciantes aderiram a essa intervenção em suas portas para que elas não fossem pichadas.

Com base no que foi estudado, agora voltado à comunicação e não somente a sociologia, o que fica evidente é que a mídia interfere diretamente na concepção que a população tem sobre certos temas (que muitas vezes é até desconhecido por eles) e que esses, por sua vez, se utilizam do que é proposto pela televisão para que formem opinião sobre o assunto. Não é de hoje que a imprensa desempenha o papel de informar e de formar opinião, uma vez que rádio e televisão são os meios de maior propagação de ideias e da comunicação de massa.

Desta forma, pôde-se concluir que todos esses fatores se interligam e convergem para um mesmo ponto: a falta de matérias especializadas que abordem o assunto de forma mais abrangente e comuniquem ao público os inúmeros desdobramentos que esse tema pode ter. A mudança da cidade foi visível nos seis meses do desenvolvimento do trabalho, pois muitos locais que o documentário iria ter como imagens já não existiam mais, aí ressalta-se o fator noticioso, jornalístico e de memória que esse trabalho pode trazer para a cidade. É notável que esse contexto gera um círculo vicioso, uma vez que a não publicação de matérias sobre o tema acaba acarretando todas as questões citadas acima, pois se não há informação, não há conhecimento e consequentemente um equívoco até mesmo na nomenclatura de tais processos, uma vez que para a Guarda Municipal de Curitiba, por exemplo, tudo que é ilegal conceitua-se como “Pichação”, independente de ser uma desenho com mais bagagem técnica e estilizado, e já o “Grafite” é entendido como as intervenções legais, mesmo tratando-se apenas de uma tag ou uma assinatura. A falta de conhecimento se multiplica em relação as outras formas culturais que também poderiam ser exploradas pela mídia, visto que até mesmo para o Expressão da Rua foi difícil encontrar interventores de outras nichos como o stencil, o sticker e o lambe-lambe. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXI Prêmio Expocom 2014 – Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação

Por isso, confirmando os objetivos do projeto, que trouxe ao público a discussão sobre o assunto, de forma a entender como a sociedade, interventores e órgãos oficiais conceituam tais modalidades de intervenção e investigou o espaço urbano, compreendendo que sim, ele é propício ao desenvolvimento desse tipo de manifestação por ser compreendido como “público” e logicamente como local de visibilidade mútua, e ainda por contar com uma divulgação que atende a toda a sociedade, sem filtros de classificação, a intenção é que o Expressão da Rua seja fonte, não somente de estudos, mas da instigação do pensamento crítico. O público alvo não é específico, justamente para que a informação se propague, atinja a todos os interessados pelo assunto ou não, mesmo que ele tenha apenas o conhecimento prévio e que por meio do documentário possa criar uma ideia exclusiva e pessoal sobre tais movimentos. Nesse contexto e para a disseminação generalizada do tema, foi enviado à Prefeitura de Curitiba um projeto para a divulgação do Expressão da Rua, na Cinemaeteca de Curitiba, e o evento que inicialmente era para apenas 100 pessoas, teve que ter mais um sessão, pois o público dobrou.

O graffiti, a pichação, o stencil, o sticker e o lambe-lambe são apenas algumas das formas de intervir nas ruas. A ideia central desse trabalho, além de promover o conhecimento sobre esse tema, é principalmente de levantar discussão sobre projetos que interferem, de forma positiva ou negativa na sociedade e que sobretudo precisam ser debatidos, entendidos e estudados, pois podem ou não agregar história para a cidade em que estão presentes. Esse é o fundamento do projeto, auxiliar na construção de uma memória que não é feita apenas por livros didáticos ou algo do gênero, mas que subjetivamente ganha valor com coisas simples, projetos acadêmicos, imagens, áudios, vídeos e informações aprofundadas.

 

6. Bibliografia

 

GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. Atlas: São Paulo, 5ª ed., 1999.

GITAHY, Celso. O que é Grafite. Ed.Braziliense: São Paulo, 1999.

NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. 5ª ed., 2010.

RIBEIRO, Ana Paula Goular; FERREIRA, Maria Alves. Mídia e memória: a produção de sentidos nos meios de comunicação. Mauad: Rio de Janeiro, 2007.

LINK DO DOCUMENTÁRIO: http://www.youtube.com/watch?v=BMQo5Hh3Q7g

 

1 Trabalho submetido ao XXI Prêmio Expocom 2014, na Categoria Cinema e Audiovisual, modalidade Filme de não ficção/ documentário/ docudrama.

2 Aluna líder do grupo e graduada em Jornalismo, e-mail: liscremin@hotmail.com.

3 Coautor do projeto e graduado em jornalismo, e-mail: matheusgasparinr@gmail.com.

4 Orientadora do trabalho. Professora do curso de Jornalismo, e-mail: elainejavorski@hotmail.com.

5 Link para assistir no Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=BMQo5Hh3Q7g

6 Análise da programação durante o período de março de 2012 a março de 2013

7 Link para visualizar o documentário no Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=BMQo5Hh3Q7g

8 Coletivo de interventores

9 Assinatura do interventor

10 Atropelo: intervir sobre uma intervenção. Para ser mais claro, se um grafiteiro faz o grafite em cima de uma pichação, logo o pichador volta e deixa novamente sua marca sobre o grafite, como se fosse a lei do mais forte

 

FONTE: https://www.portalintercom.org.br/anais/sul2014/expocom/EX40-0455-1.pdf

 

Link Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=BMQo5Hh3Q7g

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Muito obrigado pela sua contribuição.
Inspetor Frederico

Onde Encontrar os Livros? Clik no Banner

Fale Conosco

Assunto do contato
Nome
E-mail
Mensagem
Cidade
Estado



http://www.linkws.com